DIA INTERNACIONAL DE LUTA DO PROLETARIADO CONTRA O CAPITAL

Foto: Arquivo Histórico Nacional

Primeira lição: Lembrança do massacre do proletariado de Chicago (Estados Unidos)

O 1º de Maio pertence ao trabalho e não ao capital, pertence ao proletariado e não aos patrões. Ele emerge do massacre das(os) operárias(os) de Chicago nos Estados Unidos, em 1886.

É preciso sempre lembrar a história. O 1º de Maio tem suas origens ligadas às greves ocorridas nos Estados Unidos no final do século XIX, quando o movimento pacífico de trabalhadoras e trabalhadores, reivindicando redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, foi transformado num massacre pela burguesia sedenta do sangue dos trabalhadores.

A greve pela redução da jornada de trabalho, em 1886, havia paralisado mais de 200 mil trabalhadoras(es). A proposta compreendia que o dia deveria ser dividido em oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer e estudo. Diferentemente de hoje, quando o empresário da Alibaba, Jack Ma, pretende ampliar a jornada de trabalho para “996”, ou seja, carga horária de trabalho de 12 horas, das 9 às 21 h, em seis dias da semana, tornando trabalhadoras e trabalhadores assalariados mais escravos ainda dos patrões.

A burguesia procurou, pela violência, acabar com o movimento paredista. Em 3 de maio de 1886, a polícia disparou contra os operários em frente à fábrica McCornick, deixando vários mortos e feridos. No dia seguinte, os conflitos continuaram. O ferimento de alguns policiais serviu para desencadear uma brutal repressão, com dezenas de trabalhadores mortos, centenas de feridos e milhares presos. Além de perseguições, prisões e assassinados, as sedes das associações, dos sindicatos e organizações proletárias foram incendiadas para difundir o terror no interior da classe trabalhadora. A repressão policial foi seguida pela repressão jurídica; os líderes do movimento foram julgados e, ainda que não houvesse provas, quatro (Adolph Fischer, George Engel, August Spies e Albert Parsons) foram condenados à morte por enforcamento e outros quatro à prisão perpétua. Por conta desses acontecimentos, o 1º de Maio ficou reconhecido como dia internacional de luta das trabalhadoras e trabalhadores.

Segunda lição: Lembrança das greves de 1917-1920 (Brasil)

É importante lembrar que o jovem proletariado brasileiro adentrou no século XX fazendo inúmeras greves no mês de maio. A primeira greve aconteceu em 1903. A segunda contou com ampla adesão de classe, sendo deflagrada pela União Interamericana dos Operários contra a Cia. Docas de Santos, em 1904. Já a greve iniciada em 15 de maio 1906 foi encerrada, em 30 de maio, com demissões sumárias, deportações e inúmeras prisões.

A repressão pautou a greve de 1º de maio de 1907, envolvendo os setores da construção civil, metalúrgica, alimentação, gráficos, sapateiros, têxteis e limpeza pública. A manifestação iniciada em São Paulo acabou atingindo Santos, Ribeirão Preto e Campinas. A repressão não bastou e a burguesia teve de atender a algumas das reivindicações dos setores da construção civil, dos gráficos e têxteis.

Depois da onda repressiva e do refluxo econômico promovido pela Primeira Guerra Mundial, o jovem proletariado brasileiro comparece com carga total nas greves de junho de 1917, depois do assassinato de um operário (sapateiro espanhol José Ineguez Martinez – 21 anos) pela polícia, na cidade de São Paulo e generalizando-se em diversas partes do país, onde multidões saíram às ruas para protestar contra as péssimas condições de trabalho, a superexploração, os baixos salários, a carestia dos aluguéis e dos produtos de primeira necessidade, bem como pela jornada de trabalho de oito horas, férias, fim do trabalho infantil, fim do trabalho noturno para mulheres, aposentadoria, entre outros direitos.

O sucesso da greve de junho de 1917 abriu um ciclo de greves somente interrompido em 1920. A ação repressiva desencadeada pelo Estado burguês desmantelou o movimento anarcossindical, revelando a natureza ditatorial do sistema do capital. No entanto, o jovem proletariado revelou sua natureza revolucionária, levando a burguesia a adotar uma série de medidas para conter seu avanço. A forte determinação revolucionária do jovem proletariado brasileiro impôs à burguesia uma série de medidas para conter a luta de classes, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada em 1º de maio de 1943.

A consciência revolucionária do jovem proletariado brasileiro perpassou a história da luta de classe no século XX; sua potencialidade é ampliada nas greves do ABC paulista entre 1978 e 1980. Um simples movimento de pálpebras do Prometeu da humanidade, o proletariado, que sacudiu as estruturas do regime empresarial-militar, serve como ilustração do que poderá acontecer quando o proletariado decidir levantar-se radicalmente contra os capitalistas.

Terceira lição: Lembrança de maio de 1968 (França)

A ascensão revolucionária de maio de 1968 demonstrou que o capitalismo é incapaz de atender aos interesses das trabalhadoras e dos trabalhadores e que o socialismo é a única alternativa efetiva para a humanidade.

O movimento começou no dia 10 de maio de 1968, quando 20 mil estudantes franceses ergueram barricadas para lutar contra a estrutura precarizada da universidade pública francesa e a estrutura de opressão e exploração construída pelos capitalistas. A tentativa de destruição da universidade pública foi a causa imediata da explosão do maio de 1968. A crise da universidade burguesa revelava o começo da crise estrutural do sistema do capital; a educação precisava ser transformada em mercadoria para minimizar os efeitos da queda da taxa de lucro dos capitalistas. Os estudantes desejam mudar o mundo, e a única forma de transformá-lo seria erguendo barricadas contra o capitalismo e colocando, na ordem do dia, a necessidade da revolução e da luta pelo socialismo.

Por isso, mais de 10 milhões de trabalhadoras e trabalhadores se uniram aos estudantes na luta contra a exploração capitalista. A greve geral culmina na ocupação de muitas fábricas e universidades. Os trabalhadores ergueram barricadas nas ruas e enfrentaram a polícia para demonstrar quem realmente deve mandar na produção.

A derrota das manifestações de maio de 1968 revela que o movimento operário não devia limitar-se às formas de ação e de organização tradicionais (sindicatos e eleições), senão que deveria passar para as formas de organização superiores, isto é, à constituição de comitês e conselhos operário-camponeses eleitos pelas trabalhadoras e trabalhadores. O movimento não devia contentar-se com a pauta reivindicatória, nos marcos da institucionalidade burguesa; ele precisava passar da fase da reivindicação para a ação revolucionária, mediante a constituição duma alternativa de poder político: os conselhos operários e comitês de fábricas.

O não estabelecimento duma dualidade de poder pela crítica das armas permitiu a recomposição da burguesia e o triunfo da ilusão da possibilidade de atender às exigências da classe trabalhadora e das(os) estudantes pela via eleitoral. A vitória das ideais reformistas predominou no interior da classe trabalhadora. Infelizmente, a ocupação de fábricas não culminou em transformações estruturais anticapitalistas e na constituição duma alternativa vitoriosa sobre o poder do Estado burguês.

Os operários e estudantes exercitaram, nas jornadas de maio de 1968, a experiência da autogestão e controle da produção em determinadas fábricas e escolas. Eles precisavam radicalizar a experiência da autogestão e do controle nos bairros operários e em toda sociedade, para forjarem uma alternativa ao poder político da burguesia. Mesmo assim, maio de 1968 foi super importante, pois revelou a força da juventude para questionar o sistema do capital e sua capacidade de união com o proletariado. Não foi à toa que o movimento se espalhou pelo mundo. Nos EUA, se manifestou na defesa dos direitos das mulheres, na rejeição à Guerra do Vietnam e na luta contra o racismo que culminou no movimento liderado pelos Panteras Negras.

Quarta lição: Lembrança do massacre dos metalúrgicos da CSN e da greve dos petroleiros (Brasil)

Em plena época da redemocratização do Brasil (1988), os representantes da burguesia facínora não vacilaram em assassinar trabalhadoras e trabalhadores que ultrapassaram a linha demarcada pelo capital. Cerca de dez mil metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) realizaram uma greve e ocuparam a empresa (em Volta Redonda – Rio de Janeiro) durante 17 dias, exigindo recuperação das perdas salariais, jornada de seis horas, anistia dos demitidos em outras greves. O Exército e a Polícia Militar foram acionados pelo governo José Sarney para acabar com a ocupação de qualquer jeito. A Usina Presidente Vargas foi cercada pelas forças repressivas com blindados, tanques de guerra, metralhadoras, bombas. No dia 9 de novembro, os cães de chácara da burguesia invadiram a usina para atacar covardemente os trabalhadores metalúrgicos desarmados. O resultado foi um massacre, em que três operários (William Fernandes, Valmir Freitas Monteiro e Carlos Augusto Barroso) foram assassinados e 40 operários feridos gravemente.

Para barrar o processo de privatização da Petrobrás, seus trabalhadores constituíram uma greve que perpassou todo o mês de maio e contou com a solidariedade de categorias como eletricitários, telefônicos, trabalhadores dos Correios, servidores federais etc. A greve transcendeu a pauta economicista, pois as trabalhadoras e os trabalhadores lutavam contra a quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações, posta em curso pelo Governo FHC.

O governo da burguesia, a serviço das espoliações das riquezas da classe trabalhadora, procurou acabar a greve cortando salários, demitindo e recorrendo às diversas formas de repressão. No dia 24 de maio, o famigerado Exército brasileiro ocupou as refinarias no Paraná (REPAR), Paulínia (REPLAN), Mauá (RECAP) e São José dos Campos (REVAP).

O final da greve, 3 de junho, deixou com saldo a demissão de 73 trabalhadores, punição de mais de mil petroleiros, multas bilionárias aos sindicatos e às federações da categoria. O nível de repressão serviu para revelar a verdadeira natureza do Estado burguês contra o proletariado.

A greve dos petroleiros, em maio de 1995, entrou para história do movimento sindical brasileiro como um movimento que resistiu com determinação ao processo de privatização da Petrobras e às espoliações orquestradas pelos governos da burguesia. A determinação com que os petroleiros enfrentaram as medidas neoliberais na década de 1990 não foi a mesma no século XXI, pois a aristocracia sindical petista substituiu a política de enfrentamento de classe pelo sindicalismo acionário, que os petroleiros poderiam ganhar muito mais investindo na bolsa de valores e nos fundos de pensão da Petrobras.

Assim a FUP (Federação Única dos Petroleiros) passou a ser correia de transmissão do governo Lula e a não fazer nada perante o processo de privatização da Petrobras realizada sob a forma de concessão. Insatisfeita com a política de conciliação da burocracia sindical, a base nordestina da categoria formou a Federação Nacional dos Petroleiros, em 2010, para lutar contra o processo de privatização da estatal e manter acesa a memória do movimento sindical combativo e de luta.

Quinta lição: Lembrança das jornadas de junho de 2013 (Brasil)

Os sintomas da crise nos Estados Unidos (2008) e na Europa (2010) não demoraram a manifestar seus reflexos na economia brasileira. O que era somente uma marolinha transformou-se numa onda que contaminou a economia mundial e refletiu-se no bolso da classe trabalhadora brasileira de forma expressiva nas manifestações de junho de 2013.

Os atos convocados pelo Movimento Passe Livre, contra o aumento de vinte centavos nas tarifas das passagens, sofreram dura repressão policial em 3 de junho. Os episódios de violência contra a juventude da periferia e os jornalistas levaram a eclodir o movimento em todo o país. Em 20 de junho são milhões de pessoas espalhadas em quinhentas cidades do Brasil. Aproximadamente 89% da população apoiavam os chamados “vândalos” pela grande mídia burguesa. O governo petista, perplexo, tenta mandar os manifestantes para casa, prometendo uma nova constituinte e a melhoria das áreas de educação, saúde e transporte. Tudo não passava de conversa fiada!

Extasiada diante da impossibilidade de os petistas controlarem o movimento de massa, a burguesia procurou intervir e desviar o curso das manifestações, inserindo grupos de extrema-direita com slogans de “volta da ditadura militar”, amplamente difundidos pelos seus meios de comunicação. Desse modo, buscou dividir e apaziguar os ânimos do movimento, tentando alterar a narrativa das manifestações de 2013. Diante da impossibilidade de controlar o movimento pelas vias institucionais, a burguesia passa à disputa da consciência das massas, criando várias organizações de direita e extrema-direita (MBL, Revoltados Online, Vem pra Rua, SOS Forças Armadas, Instituto Mises Brasil, Escola sem Partido, Movimento Endireita Brasil, Mídia sem Máscara etc).

A magnitude do movimento fez a burguesia perceber que os petistas não detinham mais o controle do movimento popular e a que a própria burguesia deveria entrar em cena para impedir que o projeto societário anticapitalista ganhasse o coração das massas revoltosas. As manifestações de junho de 2013 demonstraram que a classe trabalhadora estava viva e podia a qualquer instante irromper num processo revolucionário, fugindo do controle dos partidos e sindicatos subordinados à institucionalidade estatal.

Nas manifestações de junho, a favela tomou conta do asfalto e revelou os limites do capital e do Estado burguês. Os “vândalos”, filhas e filhos da classe trabalhadora, demonstraram sua indignação contra o sistema financeiro, depredando bancos e destruindo os veículos das corporações midiáticas (Globo, SBT, Record etc.), revelando a atualidade das palavras de Marx: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”.

As manifestações de junho fizeram tremer a burguesia. Temendo a transformação da revolta em revolução, os grandes capitalistas brasileiros (como Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, João Martins, Luciano Hang etc.) passaram a financiar os grupos de extrema-direita na perspectiva de reverter a situação desfavorável. Enquanto a extrema-direita tenta sufocar a narrativa acerca das jornadas de junho, os petistas odeiam essas manifestações porque demonstraram os limites de sua tentativa de reformar o capital pelas eleições. É preciso conhecer a experiência dos conselhos operários e do comitê de fábricas da Revolução Russa para saber o que faltou nas manifestações de junho de 2013.

Sexta lição: Lembrança de “Todo poder aos sovietes!” (Rússia)

A greve se constitui como uma escola de formação para o proletariado; especialmente quando as trabalhadoras e os trabalhadores descobrem que podem encerrar uma greve ocupando as fábricas fechadas, pois, todos os meios de produção e subsistência devem ser controlados pela classe trabalhadora. Assim, a greve torna-se prelúdio de um processo revolucionário em que os trabalhadores, organizados em conselhos operários e comitês, assumem o controle das fábricas e de toda a sociedade. Os comitês de fábricas foram uma demonstração cabal da capacidade de o operariado de transpor o universo de suas lutas meramente economicistas.

Os conselhos confirmaram a perspectiva histórica da constituição de uma nova maneira de conceber a organização política da produção econômica sob o controle dos próprios operários. Eles mostraram na Comuna de Paris e na Revolução Russa que trabalhadoras e trabalhadores tanto podem dirigir as fábricas como também administrar toda a sociedade, destruindo completamente o poder político da burguesia.

As trabalhadoras e os trabalhadores devem lembrar que os sovietes se tornaram uma espécie de poder paralelo ao Estado burguês. Esta nova espécie de poder emergiu da própria classe em combate e esteve articulada às suas aspirações e motivações, superando o sistema de produção assentado no lucro e na exploração capitalista. Este processo foi experimentado também nas greves operárias de 1917-1920, bem como nas ocupações de terras pelos trabalhadores rurais em diversas partes do Brasil. Por isso, é preciso que as trabalhadoras e os trabalhadores ocupem as terras e as fábricas em todas as partes da América Latina e do mundo.

Sétima lição: Lembrança das palavras de Karl Marx (Alemanha)

As palavras de Marx servem como instrumento fundamental para a elevação do nível de consciência da classe operária neste 1º de Maio, de sua combatividade, da sua capacidade de responder golpe a golpe, a cada ação reacionária dos governos e dos patrões, de questionar não apenas com palavras, mas com atos, o funcionamento do regime capitalista e a estrutura do sistema do capital. As palavras de Marx permitem mobilizar o sentimento de revolta contra todas as formas de exploração e espoliação dos capitalistas. As palavras de Marx demonstram as entranhas do vampiro que vive do sangue da classe trabalhadora, pois:

“O capital é trabalho morto, o qual, como um vampiro, vive apenas para sugar o trabalho vivo.” (O capital)

“O capital veio ao mundo escorrendo lama e sangue por todos os seus poros.” (O capital)

“A lei absoluta do capital é a acumulação de mais-valia.” (O capital)

“A arma da crítica não pode, é claro, substituir a crítica da arma; o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria também se torna força material quando se apodera das massas. A teoria é capaz de se apoderar das massas tão logo demonstra ad hominem, e demonstra ad hominem tão logo se torna radical. Ser radical é agarrar a coisa pela raiz. Mas a raiz, para o homem, é o próprio homem.” (Crítica à Filosofia do Direito de Hegel)

“É chegada a hora e a vez de expropriar os expropriadores.” (O capital)

“Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.” (Manifesto Comunista)

“A emancipação das classes trabalhadoras deve ser conquistada pelas próprias classes trabalhadoras.” (AIT)

“Proletários de todos os países, uni-vos!” (Manifesto Comunista)

COLETIVO OFENSIVA SOCIALISTA

INSTITUTO TRABALHO ASSOCIADO

Abril de 2022