Esse Manifesto Conjunto é um primeiro esforço das organizações Ofensiva Socialista e Emancipação Socialista na construção do diálogo programático para, à frente, na possibilidade de unificação, a caminhada permita o desenvolvimento de uma organização superior a ambas.

E temos consciência que há muitos temas a serem debatidos e aprofundados para uma unificação alicerçada na compreensão comum da realidade, na atuação concreta na luta de classe e em seu desenvolvimento.

A classe trabalhadora paga preço alto pela crise do capital!

Vivemos sob a crise estrutural do capital que abala todos os âmbitos da vida dos seres humanos. A classe trabalhadora paga, literalmente, um preço muito alto para continuar subsistindo sob o sistema do capital.

No caso específico do Brasil, temos as piores condições com a fome que assola mais de 19 milhões1 de pessoas, sem contarmos com a “insegurança alimentar” (ONU) que atinge cerca de 50% dos lares brasileiros na pandemia.

Além de fome, o povo brasileiro enfrenta uma carestia generalizada de preços como o severo aumento de preços da energia elétrica, combustíveis e gás de cozinha.

Mesmo quando não há fome, a já escassa alimentação é menos diversa de gêneros alimentícios, devido também ao crescente aumento no preço de alimentos básicos. A cesta básica no Brasil já sofreu um aumento exorbitante em 2021.

Lembramos que, além de desemprego, o salário permanece estagnado e torna mais decadente o poder de compra da classe trabalhadora em geral e do salário-mínimo brasileiro.

As condições de subsistência da classe trabalhadora estão sendo rebaixadas a cada dia pela ânsia do capital em extrair e acumular mais valor. Esse padecimento da classe trabalhadora tem a mesma raiz há séculos, chamada capital. Daqui nascem os mais diversos monstros, dispostos a atormentar a vida de quem trabalha e produz toda a riqueza existente.

O aumento de preços, sem aumento de salários e com desemprego, significa o rebaixamento das condições de vida de trabalhadoras e trabalhadores. Tanto empregados, como desempregados e subempregados estamos diante das ruínas do capitalismo, que leva a total desgraça aquelas e aqueles que dispendem sua força de trabalho cotidianamente. Nesse ínterim, 14,6%2 da população estão desempregados e submetidos a subempregos que não pagam nem um salário-mínimo.

Desemprego, subemprego e uberização são legados do governo Bolsonaro enquanto personificação do capital e representante fiel da burguesia. Beneficia em especial o agronegócio com a transformação de alimentos em commodities (mercadorias para exportação) e grandes empresários com a privatização generalizada de serviços públicos. Tudo isso tem encarecido os itens necessários à vida da classe trabalhadora.

Enfim, o aumento do custo de vida representa diminuição de salário e intensificação da exploração sobre a classe trabalhadora. Isso é o que o sistema oferece a quem vende pedaço a pedaço de sua própria carne aos capitalistas, como já dizia Marx.

Dessa forma, os interesses da burguesia em conluio com o governo Bolsonaro são completamente opostos aos da classe trabalhadora, que está pagando preço alto pela crise e sustentando os exploradores capitalistas com seus privilégios e regalias.

Marco temporal, expansão do agronegócio e destruição do meio ambiente

Ao falarmos de exploração, ressaltamos que o processo de usurpação de terras indígenas continua a todo vapor com o governo Bolsonaro. O intuito é favorecer diretamente o agronegócio, intensificar o apoderamento de terras indígenas por meio da Lei do Marco Temporal, em que os povos originários serão obrigados a comprovar que já habitavam suas terras desde a Constituição de 1988. Os nativos dessas terras – hoje Brasil, invadidas desde o longínquo século XVI por colonizadores – com sua maior parte dizimada no processo de etnocídio agora precisarão provar a posse de suas próprias terras aos larápios capitalistas, que visam roubá-las para a extração de minérios e outras riquezas.

Além de pilhagens, realizadas de forma contínua pelo Estado burguês sobre as terras indígenas, caso o Marco Temporal seja aprovado, será legalizado oficialmente matar e expulsar indígenas de suas terras para que o agronegócio continue a somar dividendos.

Mesmo com a população passando fome, a previsão é que o tal setor da burguesia lucre cerca de R$ 1,13 trilhão em 2021. Algumas consequências desse processo de exploração realizado pelos capitalistas são: 1) total devastação do meio ambiente, em que biomas nativos estão sendo extirpados para que um punhado de burgueses sigam acumulando capital; 2) vida humana ameaçada devido à produção destrutiva empreendida pelo capital que, além de destruir parcelas da classe trabalhadora, também destrói a natureza e as condições materiais de existência do ser humano no globo terrestre; 3) crise hídrica instalada no Brasil e aumento desenfreado da energia elétrica para fins acumulatórios.

Dessa forma, o Marco Temporal abrirá todas as porteiras para a boiada bolsonarista passar e intensificar o caráter destrutivo do capital sobre a natureza, bem como sobre os povos originários.

Racismo, patriarcado e desumanização

No sistema do capital há vidas que não possuem “status” de humanidade. E o patriarcado, o racismo, o machismo e a homofobia são partes integrantes do capitalismo. No caso das populações indígenas e negras, o racismo além de impulsionar a exploração, desumaniza e extermina. Desde a acumulação primitiva do capital (século XVI a XVIII) e a colonização, o racismo foi utilizado para dizimar povos ao redor do mundo e permitir o estabelecimento do modo de produção capitalista marcado pelo advento da Revolução Francesa (1789). O racismo de hoje foi, então, desde o seu início utilizado pelos capitalistas com fins econômicos (para explorar e matar os considerados “selvagens”, ou seja, povos não-brancos encontrados fora da Europa) aumenjando-o como algo natural e aceitável, já que o “status” de humanidade somente era dado ao proprietário privado, homem, burguês, branco enquanto espécie de não-raça e em detrimento de demais povos, designados raças inferiores. Asseverando as palavras de Sílvio Almeida, raça é uma invenção social com intuito forjado e consonância com os interesses burgueses.

No capitalismo citamos ainda a sub-humanidade do patriarcado, do machismo e da homofobia que oprimem a mulher e a população LGBTQIA+ para sustentarem o poder, manterem o controle sobre a propriedade privada dos meios de produção e sobre seus corpos. Engels diz sobre essa questão: a origem do patriarcado está ligada à origem da propriedade privada e do Estado.

Dessa forma, a mulher tem sido relegada ao âmbito doméstico enquanto parte da propriedade do pai ou marido. A opressão e o controle sobre a mulher têm fundamento econômico. Para acumular riqueza nas sociedades de classe precedentes ao capitalismo, o homem controlava a mulher e a prole para manter a riqueza sob domínio do núcleo familiar e repassá-la hereditariamente. O patriarcado atende interesses de proprietários privados desde antes do capitalismo.

Nesse modo de produção capitalista, em que a propriedade privada dos meios de produção não é generalizada, além da exploração de uma classe sobre outra, a opressão sobre a mulher se mantém e com o aprofundamento do feminicídio, estupro, assédio, dentre outras formas de violência cometidas contra, especialmente, a mulher trabalhadora.

No caso da mulher negra, observando especificamente Angela Davis, no sistema do capital há o desdobramento do racismo com o patriarcado que têm atravessado diretamente a vida cotidiana da mulher trabalhadora. Para termos um exemplo, a violência doméstica cresceu em 20%4 das cidades brasileiras durante a pandemia.

 O quadro não difere para a população LGBQIA+, que sofre ainda com a violência machista por não se enquadrar no modelo de família patriarcal. A mulher trans ao negar a identidade de gênero masculina, também a lésbica por negar a subserviência ao homem e não cumprir o papel do casamento “tradicional”, bem como os demais (da sigla) por questionarem os papéis dos gêneros preestabelecidos que mantêm hipocritamente a ordem social dominante. Todas essas violências cotidianas caminham e alimentam a exploração capitalista, que somente encontrará seu fim numa nova sociedade.

Assim, compreendemos que o sistema do capital, em que o modo de produção capitalista configura-se como o seu ápice, utiliza vários mecanismos para manter e intensificar a extração de mais-valor na exploração. Isso ocorre de diversas formas com maior ou menor intensidade: desde o aumento do custo de vida, a redução de salário da classe trabalhadora ao processo de privatização generalizada (que entrega exorbitantes lucros às corporações transnacionais representantes do capital financeiro) e de destruição do meio ambiente, bem como o racismo-machismo-homofobia utilizados para intensificar a exploração e/ou dizimação de parcelas da classe trabalhadora ou de povos.

Denunciamos esses crimes como forma de ser do capital, que nenhuma Reforma tem conseguido ou conseguirá resolver. Somente a classe trabalhadora organizada e a Revolução são capazes de destruir esses males perpetrados pelo sistema do capital e construir o socialismo como possibilidade verdadeira de emancipação humana.

Como caracterizamos o governo Bolsonaro e o Regime político no Brasil

A mobilização de extrema-direita liderada por Bolsonaro, melhor demonstrada no 07 de setembro, confirmou alguns aspectos importantes da realidade política brasileira e reforçou a urgência da construção de um projeto de resistência e luta da classe trabalhadora brasileira.

O primeiro aspecto é que os principais setores da burguesia brasileira já apostam em outro nome para gerenciar o seu projeto. O governo Bolsonaro cumpriu tarefas importantes para o capital com a aprovação de Reformas como Trabalhista e Previdenciária, continua privilegiando a fração financeira, mas, hoje representa instabilidade política e pode comprometer o projeto mais geral de manutenção das taxas de lucro.

O segundo aspecto é que, apesar de as pretensões de Bolsonaro e de uma parcela minoritária da burguesia (agronegócio, comercial), as principais frações do capital não estão de acordo com medidas de fechamento do regime democrático burguês afinal, como está estruturado no Brasil, cumpre funções de repressão e controle de movimentos sociais com um amplo aparato repressivo policial e jurídico. Cabe ressaltar que, nesse momento, essa não é também a política do imperialismo.

Outro aspecto confirmado pela realidade é a caracterização de Bolsonaro como um indivíduo fascista. Há fatos em abundância para contribuir com essa caracterização. No entanto, não aglutinou todas as forças necessárias para impor esse modelo ao Estado brasileiro. O regime político e o seu governo (considerando o papel mediador que as instituições cumprem no Estado burguês) se enquadram na democracia burguesa que tem como instituições predominantes o parlamento, o judiciário e ainda algumas garantias democráticas com o funcionamento de sindicatos, legalidade de partidos de esquerda, algumas garantias de direitos individuais, etc.

Com a ascensão de Bolsonaro, muitos passaram a caracterizar o governo como expressão de crescimento do fascismo no Brasil. Ainda que existam muitos elementos de aproximação (reconhecendo a existência de pequenos grupos fascistas), afirmar que o regime é fascista se trata de um equívoco e com consequências políticas importantes como o chamado à construção de “Frentes Amplas” para enfrentar o tal perigo. Esse foi, por exemplo, o conteúdo de convocações para os atos de 12 de setembro. Parte de organizações de esquerda com essa mesma avaliação já justificam suas políticas de conciliação de classes, como no debate interno no PSOL, para apoiar Lula desde o 1º turno nas eleições de 2022.

O quarto aspecto é a necessidade de reconhecimento da existência de algumas garantias e liberdades democráticas (frutos de lutas importantes da classe trabalhadora brasileira), o que não implica em reconhecê-las como “nossa democracia”. A crise estrutural do capital e a necessidade da burguesia de impor mais e mais projetos de “ajustes econômicos” contra a classe trabalhadora têm como consequência a utilização em larga escala do aparato repressivo. Os capitalistas sabem que para impor a intensificação da exploração o argumento de “estarem fazendo coisas em benefícios comuns” não é suficiente. Tem sido assim nos países de economia dependente, baseados na superexploração da força de trabalho. E tem sido assim também nos países centrais da economia capitalista.

A intensificação da exploração é, portanto, generalizada e marca essa etapa de reprodução do capital no mundo. No Brasil, o aumento da fome, da população em situação de rua, da deterioração dos poucos serviços públicos, por exemplo, expressam que o valor da força de trabalho sequer é suficiente para a recomposição física do trabalhador.

Não vemos contradições entre o atual momento da democracia burguesa no Brasil e as várias medidas antidemocráticas dos últimos anos, inclusive implementadas por governos petistas como a Lei antiterrorista.

A decisão da burguesia brasileira em não apoiar o fechamento do regime, proposto por Bolsonaro, não é por fidelidade à democracia. É pelo simples fato de que o regime político em vigor no país tem se mostrado hábil para implementar o projeto do capital e isso é decisivo para a burguesia.

Uma formação social baseada na superexploração da força de trabalho requer um regime político repressivo, esse ponto é central para entender o caráter antidemocrático da superestrutura política no Brasil. Mantém-se poucas liberdades democráticas e a possibilidade histórica de fechamento do regime sempre estará posta. No momento de ameaça à normalidade de reprodução do capital e de seu poder, a burguesia e seus governos recorrem à força direta contra o movimento da classe trabalhadora. A burguesia é, em sua essência, uma classe ditatorial. As formas mais ou menos democráticas dos regimes são táticas, pois, em geral, são mais eficientes para manter o seu poder econômico.

 Há um movimento de extrema-direita no Brasil, com uma força política importante, mas não é de massas. As principais bases política e social são setores da classe média com formação superior, empregada ou pequenos proprietários, profissionais liberais e funcionários públicos de carreiras do Estado (fiscais fazendários, auditores, etc.). Não conseguiu ainda penetrar nos setores mais pauperizados da classe. Outros setores importantes de sua base de sustentação são as forças policiais, setores das forças armadas e principalmente as polícias militares estaduais. Pode-se dizer que são o “braço armado” da extrema-direita.

Não ser um movimento popular de massas não deve ser motivo para despreocupação. No 7 de Setembro mostrou-se com força para, em alguns momentos, mobilizar e polarizar a situação política nacional. Dessa forma, se não pode ser superestimado, menos ainda subestimado. Precisa ser combatido.

Movimento maior é o da “direita liberal democrática” formado pelos principais partidos burgueses, movimentos como o MBL e outros. É amplo no sentido de agregar vários setores conservadores e reacionários como o MBL mas, defende democracia liberal como um valor universal. É apoiado e financiado pelos principais setores da burguesia brasileira. Foi, sob liderança de Rodrigo Maia, responsável pela aprovação de medidas pró-projeto do capital, mesmo nos momentos de desorganização do governo.

É um movimento que deve ser enfrentado e precisa ser na luta direta, com um programa político e econômico que atraia o conjunto da classe trabalhadora com setores da classe média baixa; pequenos comerciantes e lojistas (muitos em bairros periféricos); funcionários públicos (têm perdido direito atrás de direito); trabalhadoras e trabalhadores administrativos de empresas (sob diversas formas de empregos precarizados); profissionais liberais cada vez mais proletarizados, etc.

Saída para a crise econômica, política e social

Muito da crise política está relacionado à crise econômica. A pandemia agravou e acelerou esse quadro que já se aprofundava e afetou muitos setores do capital no Brasil.

A burguesia já tem sua saída e o receituário que inevitavelmente passa por ataques aos direitos econômicos, sociais, sequestro de dinheiro público que até dificulta a aplicação em programas assistencialistas como o Bolsa Família.

Lula e PT não são alternativas

Nesse cenário, Lula e PT se recolocam na cena política nacional com um discurso dúbio. E apoiados em programas emergenciais de gestões anteriores têm conseguido reaparecer como alternativa para um importante setor da classe trabalhadora.

De um lado, é a oposição mais forte ao governo Bolsonaro. De outro, Lula representa um tipo de gestor do capital. Os legados de governos anteriores, principalmente de Lula, não servem como passaporte para tratar de uma candidatura como de esquerda.

Enquanto os “banqueiros nunca lucraram tanto como no governo dele”, os programas sociais não representaram nem 0,5% do PIB nacional, ou seja, não passaram de migalhas que caiam da mesa farta da burguesia. Presenteada com todo tipo de regalias como o pagamento da dívida pública, isenção de IPI para montadoras, desoneração da folha de pagamento para as empresas (causando déficit na Previdência), etc.

É compreensível que parcela da classe trabalhadora tenha esperança num próximo governo Lula, mas não justifica que setores da esquerda organizada insistam nesse problema. Lula e o PT já não são alternativas, o programa de governo que defendem é burguês. As experiências com os governos petistas demonstraram que governam para o capital. As tratativas e acordos que Lula está costurando já indicam que vai ser trilhado o mesmo caminho.

Outra crítica fundamental aos governos petistas é a de desarticulação de movimentos sociais, por via de cooptação, cargos aos dirigentes sindicais, financiamento de atividades de entidades como UNE. Essa política de desarticulação custou muitas perdas de direitos para a classe trabalhadora.

Ainda cabem duas observações: 1) Não colocamos sinal de igual entre os governos petistas e o de Bolsonaro. Mesmo considerando ambos como governos burgueses, representam formas diferentes de gestão do capital e cada um tem as suas especificidades, inclusive no trato com a democracia burguesa.

Os governos petistas têm aspectos desenvolvimentistas, têm mais mediações na aplicação dos planos da burguesia e com ritmo mais lento. Por exemplo, Lula fez uma Reforma da Previdência em 2003 e Dilma outra em 2015. Ambas retiraram direitos importantes da classe trabalhadora. A Reforma da Previdência de Bolsonaro em 2020 foi mais ampla, direta e sem mediações. Em todas foram atacados e retirados direitos duramente conquistados. Nós, enquanto esquerda, não podemos aceitar apenas a escolha de ritmo dos ataques e a negociação de medidas para implementá-los. Devemos nos posicionar contra a totalidade do projeto do capital e seus gestores.

2) É importante demarcarmos essas questões estratégicas porque já apontam a nossa postura de oposição pela esquerda a um eventual governo petista. Uma oposição crítica, com a responsabilidade de classe trabalhadora, sem se alinhar a setores de direita que possivelmente farão oposição ao governo Lula. “Inimigos do nosso inimigo não são nossos amigos”.

Entendemos ser necessário preservar o campo de classe trabalhadora, suas reivindicações históricas e contra o capitalismo. A tática eleitoral utilizada em 2018, voto crítico em Haddad, não representou uma capitulação ou negação de nossa caracterização mais geral sobre o significado político-ideológico do PT, do lulismo e significava uma avaliação do quê estava por vir.

Nós somos contra o sistema!

A dominação burguesa passa por uma crise. Expressões como “todos os políticos são iguais”, “isso nunca vai mudar”, o alto número de abstenções e voto nulo/branco (parte desses votos tem conteúdo de direita também) e a falta de perspectiva de vida são expressões da falta de consciência de classe, que os capitalistas têm se utilizado para manter a dominação e reforçar a falta de cresça que “a vida vai melhorar”.

O sentimento antissistema estava, de forma muita confusa, presente no junho de 2013, mas foi absorvido hipocritamente pela direita.

Não por acaso, Bolsonaro disse ser antissistema e conseguiu se eleger. Isso não foi decisivo para a sua eleição, mas representou uma saída. Hoje, já desmascarado, está demonstrado que é o próprio sistema, ou seja, não tem esse trunfo. No entanto, seu principal opositor sempre se apresentou como “parte boa do sistema” e ainda reivindica a “boa política”.

Historicamente os setores antissistema sempre foram de esquerda socialista. É urgente retomarmos a denúncia de que os problemas sociais, econômicos, a opressão e a exploração são parte integrante do sistema do capital que, em nome do lucro, assassina, mata de fome, destrói a natureza e coloca todo o planeta em risco. E que a saída, dessa crise estrutural do capital e de dominação, para a classe trabalhadora passa necessariamente pela ruptura com o capitalismo.

A história tem provado que a sociedade capitalista não se transforma, em beneficio da classe trabalhadora, por via eleitorais. Somente a Revolução Socialista poderá apresentar um novo caminho para toda a humanidade.

Por uma Frente de Esquerda Anticapitalista e Socialista!

Consideramos que a fragmentação, o isolamento político e social da esquerda anticapitalista e socialista – justamente nessa conjuntura marcada pelo avanço dos ataques do capital, da extrema-direita e do empobrecimento geral da classe trabalhadora – não podem continuar e nem se manter como reféns de direções burocráticas. Precisamos construir uma política e um programa alternativo, que responda aos principais problemas vividos pela classe trabalhadora nessa conjuntura. Para isso, defendemos a formação de uma Frente de Esquerda Anticapitalista e Socialista que faça oposição ao projeto burguês de sociedade, seus governos e direções traidoras dos movimentos de trabalhadores.

Uma frente para organizar ativistas e militantes socialistas, intervenção nos acontecimentos da luta de classes e contribuir para o desenvolvimento da consciência de classe e anticapitalista.

Uma Proposta de Programa

1) Mobilização operária-popular para derrubar Bolsonaro: Fora Bolsonaro e todo o seu governo! Nenhuma crença nas eleições!

2) Medidas emergenciais para a classe trabalhadora enfrentar a crise

Desemprego, fome, inflação, violência, falta de moradia, cortes de verbas dos serviços públicos, etc. são parte desse sistema e consequências de “ajustes que só ajustam” o lucro dos capitalistas. Quem tem fome, está doente, não tem emprego e nem onde morar são pessoas que não podem esperar!

Por isso, defendemos:

– Para garantir necessidades básicas: Auxílio emergencial de 02 Salários-mínimos para desempregados, trabalhadores/as por conta própria, pequenos comerciantes;

– Fortalecimento do SUS, fundamental no enfrentamento da pandemia, contra qualquer proposta de privatização desse serviço público;

– Contra o desemprego: estabilidade no emprego, redução da jornada de trabalho até que garanta emprego para todos e todas, sem redução de salários;

– Os patrões devem pagar pela crise. Nenhum direito a menos para a classe trabalhadora;

– Reestatização de todas as empresas concessionárias para garantir isenção de tarifas de água, luz e saneamento;

– Petrobrás 100% estatal e com o refino no país para garantir gás, gasolina e diesel a preços justos;

– Para Trabalhadores/as de aplicativos: todos os direitos trabalhistas (férias, 13º salário, piso salarial, proteção contra acidente de trabalho, etc.) e Carteira de Trabalho assinada.

3) Como garantir a implementação dessas Medidas Emergenciais?

Dinheiro público para os serviços públicos e não para os sanguessugas capitalistas, grandes empresários, banqueiros e especuladores. Por isso, defendemos:

– Não pagar a dívida pública para banqueiros e especuladores!

– Sobretaxação de grandes fortunas, taxação sobre rendimentos de aplicações em Bolsas de Valores (hoje 0%) e de bens de luxo como jatinhos, iates, helicópteros, etc.!

4) Defender as conquistas de décadas de lutas, atacadas pelo neoliberalismo:

– Contra a Reforma Administrativa e em defesa do serviço público;

– Revogação de todas as Reformas que retiraram direitos da classe trabalhadora;

– Cancelamento de todas as vendas do sistema Petrobrás e pelo monopólio estatal, sob controle de trabalhadores/as, da extração de óleo, de refino e de distribuição dos derivados de petróleo e de minerais;

– Reestatização, sob controle de trabalhadores/as, de todas as empresas privatizadas;

– Reforma Agrária sob controle de trabalhadores/as;

-Reforma Urbana por moradia e contra a especulação imobiliária. Nenhum ser humano sem casa, pela desapropriação de terrenos baldios. Por um programa de habitação que atenda a quem precisa de moradia;

– Estatização do sistema de transporte, tarifa social e vale-transporte para desempregados/as, passe livre para estudantes em todos os dias da semana. Mobilidade é um direito fundamental, por isso, transporte público de qualidade.

5) Lutar pelas liberdades democráticas:

– Liberdade de organização sindical. Direito de organização por local de trabalho e estabilidade para    representantes eleitos;

– Direito irrestrito à greve, atacado também com o “serviço essencial”. Contra qualquer intervenção do Poder Judiciário. São os trabalhadores que devem decidir como e quando lutar;

– Prisão de todos os torturadores e de quem auxiliou como médicos, etc. Tortura é crime inafiançável;

– Contra todo ataque aos direitos democráticos.

6) A luta é contra os governos nacionais de plantão, mas também e contra o imperialismo

– Fora imperialismo do Brasil e da América Latina;

– Nacionalização das empresas multinacionais e quebra de patentes para ser produzido o necessário para população e sem entraves;

– Fim da remessa de lucros. Nenhum centavo da riqueza produzida, com suor e sangue da classe trabalhadora brasileira, pode ir para o exterior!

Essas justas e necessárias reivindicações não serão realizadas por nenhum gestor do capital de plantão. O Estado, controlado pela burguesia, está limitado pelos interesses do capital. Nem mesmo um programa social como o Bolsa família (com insuficientes R$ 400) é atendido integralmente porque o “invisível mercado” pode se desestabilizar. Esse “mercado” tem nomes e sobrenomes (Bradescos, Itaús, Naji Nahas, Bolsas de Valores, etc.) que não abrem mão de um centavo em favor do povo.

Também não nutrimos nenhuma ilusão que “um dos nossos” no governo vai aplicar medidas capazes de resolver os graves problemas sociais, pois, como dissemos, a essência do Estado é atender ricos e poderosos. E, como representação do capital, é incontrolável.

Assim, ao mesmo tempo em que defendemos essa Proposta de Programa, alertamos que somente a classe trabalhadora organizada e mobilizada poderá resolver os problemas enfrentados no seu dia a dia.

Por isso, entendemos que a luta pelas reivindicações imediatas deve estar articulada com o esforço revolucionário de contribuir com o desenvolvimento da consciência de classe e socialista da classe trabalhadora para avançar na luta contra o sistema capitalista como um todo, pois, assim, a revolução socialista há de avançar no sentido de resolver os graves problemas sociais e garantir a vida para classe trabalhadora.

                                                                                                                                     DEZEMBRO/2021


1  Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/pesquisa-revela-que-19-milhoes-passaram-fome-no-brasil-no-fim-de-2020#:~:text=De%20acordo%20com%20os%20pesquisadores,ao%20n%C3%ADvel%20observado%20em%202004. Acesso em 30 out. 2021.

2   Disponível: https://exame.com/economia/desemprego-no-brasil-fica-146-e-atinge-14-milhoes-de-pessoas-diz-ibge/#:~:text=Ainda%20de%20acordo%20com%20os,14%2C76%20milh%C3%B5es%20de%20pessoas.&text=A%20taxa%20de%20desemprego%20no,nesta%20sexta%2Dfeira%2C%2030. Acesso em: 30 out. 2021.

3  Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/governo-estima-producao-agropecuaria-de-r-11-trilhao-em-2021/ Acesso em: 30 out. 2021.

4  Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/violencia-contra-mulheres-cresce-em-20-das-cidades-durante-pandemia Acesso em: 30 out. 2021.