Imagine que você está em sua casa ao lado dos familiares quando de repente a polícia atira para matar em seu filho, desaparece com o corpo dele e depois o mesmo é encontrado no IML. Essa situação que para alguns pode parecer irreal é cotidiana na vida do povo preto e periférico e acabou de acontecer com o assassinato do adolescente de 14 anos chamado João Pedro, em São Gonçalo/RJ. O extermínio em massa do povo preto acontece sistematicamente e dizima a vida de crianças, adolescentes e jovens.

Inicialmente é essencial constatar que há algo muito cruel e podre que permite e estimula o extermínio de pessoas pretas, não podemos naturalizar essa situação e tratá-la de forma banal. Quanto vale uma vida preta preta nessa sociedade? Será que somos descartáveis? Por que nos matam assim, abertamente, sem nenhum pudor? Esses são alguns questionamentos que pairam a mim e a tantas outras pessoas que estão sofrendo isso na pele e lutando todos os dias contra um inimigo que pode lhe matar a qualquer momento.

Esse ininigo, personificado na figura da polícia militar do Rio de Janeiro, comandada pelo genocida Witzel, é bem maior do que possamos imaginar, pois ele vai além da figura de um político ou outro que endossa essa forma de violência, o inimigo está na estrutura da sociedade em que vivemos, pois substituir um genocida por outro acarretará igualmente na morte de milhares de jovens da classe trabalahdora.

Assim, o problema estrutural é o sistema do capital, pois este está fundado desde o início de sua gestação em exploração dos corpos pretos, a exemplo da escravidão das pessoas pretas, que foram sequestradas de seu lugar de origem, para ser desumanizadas e exploradas no Brasil, entre outros países.

A acumulação primitiva do capital se deu por meio da exploração e do extermínio do povo preto e, as marcas da escravidão, estão mais latentes a cada dia, o racismo é estrutural, pois a estrutura do capital é racista, esse sistema é feito para que pretos e periféricos sejam vistos como não humanos. A transformação de tudo em mercadoria, inclusive as pessoas, é a pedra de toque do capital e isso se intensifica com o povo preto, por isso somos tratados como descartáveis, bandidos, assassinos, criminosos, entre outros tipos de prerrogativas usadas para nos exterminar de forma contínua.

Parece óbvio para nós pretas e pretos, mas temos que sempre relembrar que também somos humanos, que nossa vida não pode ser jogada fora como um saco de lixo, que devemos ser respeitados e tratados com dignidade, porém, infelizmente, dentro desse sistema desumano, as pessoas pretas periféricas da classe trabalhadora não têm um segundo de paz, além da preocupação com o subemprego, o desemprego, a miséria, a pobreza, entre outras mazelas que a classe trabalhadora sofre, o racismo estrutural, na forma de genocídio do povo preto continuará a se perpetuar enquanto existir esse sistema.

De acordo com Instituto de Segurança Pública (ISP), em 2019, a polícia militar matou até outubro do mesmo ano 1546 pessoas, um recorde de mortes desde o início da pesquisa que iniciou-se em 1998. A polícia militar realiza o extermínio do povo preto porque é o braço armado do Estado, e este, por sua vez, serve indistintamente ao capital.

Repudiamos a morte de todos os Pedros, Marias, Josés, Amarildos, Luanas, de todas e todos aqueles que são pretos e fazem parte da classe trabalhadora e por isso são condenados sem direito à defesa, sem direito a nada, pois a democracia burguesa é isso, a mentira da liberdade e igualdade formais. Na prática temos a liberdade de morrer de fome ou ser morto pela polícia, a igualdade é jogada na lata do lixo junto com as nossas vidas que estão sendo ceifadas. A democracia burguesa é uma ilusão para que a gente continue vivendo sob esse ciclo de destruição da humanidade ensejado pelo capital.

Para acabar com essa desgraça que assola nossas vidas, a solução é radical. Não podemos cair na falácia liberal de conciliação entre as classes pois isso é uma aberração sem tamanho, como vamos nos conciliar com aqueles que nos matam, exterminam, violentam, estupram, exploram e destroem nossas vidas? A solução é radical, porque é necessário arrancar o mal pela raiz, nós não podemos almejar somente a diminuição do número de mortos pela polícia, mas sim acabar com esse aparato que nos mata, extinguir o capital é extinguir o genocídio do povo negro, é extinguir todas as opressões que esse sistema vem gestando desde o século XVI.

A liberdade para o povo preto e para a classe trabalhadora em geral só pode ser alcançada quando estivermos livres das amarras do capital, devemos matar o capital para ele parar de nos matar. A revolução socialista não é uma utopia ou um sonho de uma noite de verão, é uma possibilidade histórica de transformação radical e destruição de todas as mazelas que a classe trabalhadora vive.

Trabalhadoras e trabalhadores não precisam de patrões, o povo preto e periférico deve estar em consonância com a sua classe para destruir todas essas formas de opressão que o capital através do poder do Estado usa para nos dizimar. É possível construir uma sociedade em qua a gente não tenha que se horrorizar todos os dias vendo crianças e jovens pretos sendo assassinados a sangue frio, em que não haja pessoas na rua morrendo de fome, em que não seremos mais exploradas e explorados, em que poderemos saber o que é a liberdade para além de meia dúzia de palavras ao vento.

A construção de uma sociedade socialista fundada na emancipação humana e no trabalho associado é o caminho para vivermos a plenitude do gênero humano. Pelo fim de todas as opressões e todas as forma de exploração, abaixo o extermínio do povo negro e abaixo o capital!

Por Lorraine Marie

Referências

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 2. ed. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2011.

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/19/adolescente-de-14-anos-e-morto-em-operacao-policial-no-rio-de-janeiro.htm

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/11/25/em-2019-rj-tem-maior-numero-de-mortos-por-policiais-desde-o-inicio-da-serie-historica.ghtml